quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Consolar





o vento veio
bater na minha porta
fez um moinho em volta de mim
pra me acalmar

soprou meus ouvidos

disse poesia
e colo me pediu

mandou uma brisa
pra meu sossego
me deu carinho

seguiu seu rumo
pra consolar
por um segundo
um outro alguém


Vida



do sofá eu olho a vida
vejo as fotos
meus cadernos
tem os livros
alguns traços

uma tela
(sempre em uso)
a idéia que rodeia
e passeia livremente

todo verde da cidade
ouço som dos passarinhos

raras vezes adormeço
sonho tênue
brisa calma

no sofá eu me convenço
que meu mundo
é tão imenso
que é mais fácil
lá morar

Rotina


vou sair da rotina
seguir seu conselho
- fugir do tempo -
correr das trilhas
amar meus sonhos
- viver condão -

Passarinho

 


um passarinho me visitou
voou na sala
posou na sanca
não viu janela para sair
bateu as asas
rapidamente
mas no lugar permaneceu
do outro lado
havia o mundo
acho que o medo
foi que o prendeu
estar assim desprotegido
fora do grupo
de seus amores
traz o pior das impressões
um abandono da própria vida
sem o carinho e aconchego
não há um canto
nem um lamento
sobra apenas
o mais terrível
o grande imenso
da solidão

Coração





um coração aflito
pode bater até amanhã

Passeando



andando por aí
contando os meus passos
pulando cada linha
(da calçada bem riscada)
passeei devagarinho
respirei o ar do mar
vi casal entrelaçado
um cachorro de sapato
a velhinha de bengala
o rapaz da bicicleta
(com o freio sem sentido)
o carteiro atrapalhado
o lixeiro manequim
o pedinte de cigarro
o vizinho abobalhado
o porteiro infartado
a menina da novela
um jardim bem aparado
aquele muro derrubado
(e trocado pela grade)
dei a volta ao quarteirão
meia volta me virei
fui ao mundo
e voltei
em cem metros
repousei

Pracinha





com as árvores ao redor
onde o vento rodopia
pipas voam com meninos
velhos com sua companhia

moças beijam namorados
homens estão abandonados
a criança pula-pula
a babá é cuidadora

tem polícia tem bandido
o artista apaixonado
um mendigo meio louco
um olhar sempre perdido

é possível compreender
que a pracinha do meu bairro
cabe todo o sentimento
que passeia pelos sonhos

A Árvore





ao lado da minha casa
tem uma árvore
galhos dispersos pela janela
fazem caminho um tanto estranho
enroscam luzes e ventilador
seguem rasteiros pelo teto
parecem braços, meio afetados
talvez carentes d'algum afago
mas se acaso o quer tocar
espeta os dedos sem um lamento
e os passarinhos que vão cantar
não acalantam, é só ruído
e aqueles galhos que querem amor
traduzem totalmente
a dor

Sai





sai
do
seu
mal
meu
bem

Ar







ar estranho
estranho tanto
o que está no ar
estranho pensamento
que me toma o ar

Caderno





às vezes me refugio
dentro do meu caderno
é lá que encontro abrigo
onde posso sonhar
visito cada linha
olho rabiscos sem fim
um número de telefone
nem sei bem de quem
um nome solto na página
sem rosto e solitário
nenhum compromisso marcado
nada me prende ao lugar
passeio alheia ao concreto
cada inteiro é pedaço
de um pequeno devaneio
é lá que encontro meu mundo
suspenso
dentro do meu caderno

Minha Felicidade





da minha felicidade
só eu que sei
dos tempos da amarelinha
da roda de bicicleta
das corridas pelo trilho
dos mergulhos pelo mar

da minha felicidade
só eu que sei
do vestido amarelo
bordado pela mão
dos bailes com o chico
do menino e do vadio

da minha felicidade
só eu que sei
da viagem até a serra
do frio da madrugada
dos filhos sempre benvindos
de todos eles crescidos

da minha felicidade
só eu que sei
dos frutos dos meus queridos
dos quadros com sentimento
dos poemas em agonia
das noites sempre acordada

da minha felicidade só eu que sei!

Às Claras





me ponho do avesso
e o absurdo aparece
vestido amassado
no ponto de encontro
cabelo enroscado
da ponta ao encontro
alegria mentida
beleza escolhida

me ponho em confronto
a verdade esclarece
estou bem passada
toda arrumada
me encontro na ponta
tristeza sentida
insignificância às claras

Sou Assim





sou assim meio encantada
pelo mundo que criei
faço assim meio apressada
a fantasia que pensei
fujo assim meio calada
da bobagem que lancei
fico assim meio assustada
com as coisas que tentei

Lamento





nunca vejo nos seus olhos
brilho maior
ao menor dos meus
sentidos
nunca vejo
em suas mãos
suor quente
ao frio dos meus
medos
nunca vejo
em sua alma
aura azul
ao redor dos meus
lamentos
lamento
por você
por mim
por nós
por todo mundo

Boa Noite



O silêncio vem chegando devagar
Um latido ali, um som de sapato aqui
Consigo ouvir até a onda bater
O cheiro de flor invade minha sala
Um portão se fecha e olho pela janela
Luz bem fraca do outro lado da rua
Ouço o último carro que passa apressado
Dobra a esquina e vai embora
Permito a sensação do nada
O relaxamento traz a maciez da noite
Posso enfim pensar em paz

Oração





queria acreditar
que posso olhar para o céu
que um santo cuida de mim
que a imagem traz um lugar
que o pecado é mortal
que meu encanto natural
que o pedido é sentido
que todo meu pranto é aceito
que eu sou especial

então assim calado
talvez eu faça um pedido
sossega meu canto sentido
espera meu sonho chegar
consola a vida vivida
sustenta a alma tristonha
me leve bem leve pro voo
apruma o vento de oeste
ajuda a calma ficar

Nós





emocionada estou
descobrindo quem sou
no olhar do outro
aquilo que importa
das coisas que foram ditas
e  feitas
só agora entendo
que acertei
que transformei
alguém que olha para si
vê a mim
vê nós dois

Alguém






pela janela
daquele ônibus
vi alguém passar
não vi o rosto
quem é o pai
se é casado
se já tem filho
o que fará
naquele dia
o que fará
daqui pra frente
se tem amigo
ou é sozinho
gosta de rock
ou de canção
dorme coberto
sonha acordado
mora em casa
ou num sobrado
vive alegre
ou é zangado
de onde vem
pra onde vai
e se um dia
o encontrar
não saberei
que é você
porque olhar
pela janela
não conta nada
além da estrada !

Teias





embaraço na teia das demandas
acato todos os desejos
cuido de cada pequenez

liberto todos do pecado

e meus pecados
pra onde vão?

Retrato



quando olho pro retrato
reparo de canto
aquele momento
o tempo assim parado
me leva à exatidão
restou agora
apenas
sombras do papel

Sala Vazia





Aquele desenho no taco
me chama à simetria
o sinteco descascado
conta cada passo

Mas aquela sala vazia

revela todo o sentido
de um olhar perdido
no passado completo

Minha Parte


a parte que me cabe
é só minha
sozinha
periga não conseguir
mas é minha
sozinha

não dá pra dividir
porque é minha
sozinha
e se for pra carregar
é minha
sozinha

Jogo de Palavras




 
 
uma frase infeliz
matou a certeza
que uma promessa qualquer
fizesse sentido

uma palavra mal dita
refaz a certeza
que uma promessa qualquer
é sempre maldita

Livros



Havia livros sobre a mesa
Abri alguns
Li dedicatória
Sabia pra quem era
Não sabia de quem vinha

Recolhi pratos
Limpei cinzeiros
Lavei a louça
E aqueles livros
Se perderam
na rotina

Noite





Na hora que tudo escurece
Não há procura
Nem encontro
E quando os olhos clareiam
Na busca de algum afeto
Nada cabe ao meu alcance
Não há sombra
Nem reflexo
Não há brilho
Nem saída
Só almas inexpressivas
que se alimentam
da
escuridão

Às Vezes



Às vezes, nem sempre
todos os problemas do mundo
desabam na minha cabeça

Às vezes, nem sempre
todas alegrias do mundo
cabem no meu coração

Às vezes, nem sempre
minha cabeça e meu coração
juntos estão,
no mundo que é meu

Atraente






Estava bonita
Vestido rendado
Sapato bem alto
Batom tão rosado

Rodei para o lado
Dancei no salão
Fiquei no lugar
Gostei do baião

Comi um petisco
Bebi copo d'água
Limpei os meus lábios
Pisquei sem ter risco

Voltei mal tratada
Sentei no degrau
Subi devagar
Deitei na almofada

Dormi lentamente
Pensando na noite
Sonhei com a verdade
Sou muito atraente!

Esquisita





Sou muito esquisita
Não gosto de abraço
Não sinto cosquinha
Não bebo cerveja
Nem vinho, nem whisky

Só gosto da noite
De dia eu durmo
Não sento à mesa
Nem ligo pro almoço

Me sinto sozinha
Tô cheia de gente
Me canso bastante
Às vezes me amo

Cristal





igual cristal
quebro em pedaços
separo fragmento
guardo no fundo d'alma

e o sol que ilumina
meu mundo
se junta as gotas de lágrimas
transforma pequeno bocado
num arco-íris de sonhos

Amor






queria estar no seu lugar
trocar de alma

você sem dor
eu com a sua

da minha dor
eu cuidaria

só pra olhar
você feliz

Gosto




gosto do cheiro de pimentão
quando a água cai no chão
das cores do meio da tarde
assim que o sol recosta

pintar as emoções
escrever o que sei

de um bloco animado
de comer (bom) macarrão
e de ficar fazendo nada
tendo o que fazer

uma música bem triste
que é inverso de viver

gosto mesmo do silêncio
roupa sem passar
um chinelo bem velho
que ajuda descansar

passa tempo
passará
e assim meio tranquilo
vou gostando de gostar


Felicidade



felicidade retorna devagar 
passo a passo
com cuidado
serenamente

sobre gotas
que escorrem
molham a boca
docemente

desta vez
me acolha
se instale
plenamente

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Medo





Tenho medo do imponderável
de tudo que eu não posso ver
daquilo que não comando
do muito que não quero ter
tristezas que não são minhas
das dores de todos os meus.

Procura






algumas coisas que preciso procurar
nem sempre estão onde eu sei
talvez eu tenha que andar um pouco
ir por aí pra ver se encontro
aquilo tudo que nunca achei
e pode ser que quando eu volte
nunca me lembre o que de fato
porque de fato eu já nem sei

Começo





Fim.
Assim é o começo.

Tédio






ontem morri de tédio
fui enterrada sem luxo
esquecida sem saudade

hoje renasço de teimosa
vivo com a miséria
lembro da missão

amanhã subirei ao paraíso
sonharei com alegria
totalmente anônima

Tempo





Fico olhando o tempo
Tão longe
Distante de voltar agora

Percebo o tempo que vem
Tão frágil
Por um instante apenas

Encontro o tempo dos tempos
Tão ágil
Impresso na alma pra sempre

Habito





Habito no meu pesadelo
Nem sempre noite
Todos os dias
Na solidão
Na anarquia
No telefone
Quanta agonia!

Pode ser calmo
Pode ser manso

Não há descanso
Só desalento
Final do dia
Por toda noite
Habito no meu pesadelo!

Palavra





Palavra jogada ao vento
É como areia
Embaça os olhos
Arranha o corpo
Pequena cicatriz
Cai pelo chão
Palavra vã
Areia vai

Palíndromo





quero
não tenho
vou indo

desejo
só sonho
não faço

acaso
me ponho

na frente

consigo
ser livre
de alma

de alma
ser livre
consigo

na frente
me ponho
acaso

não faço
só sonho
desejo
vou indo
não tenho
quero

Hoje



hoje amanheci como sempre.
demorei pra acordar como sempre
gosto de hortelã como sempre
café com pão como sempre

amanhã será diferente
demorarei menos pra seguir em frente
gosto da fumaça presente
arroz com feijão finalmente.

farei reverência pra variar
demorarei na criação só pra testar
gosto doce de vida pra ajudar
insanidade e delírio só pra alterar

Um bom lugar





talvez padeça
talvez tolere
talvez eu caia
eu faça
eu corra
eu fuja
.
talvez me mude
me cale
me troque

quero a calma
quero sossego
quero mormaço

talvez remanso

um lago fundo
nenhum abalo

um bom lugar
pra devaneio e ilusão
onde, cadê, será?