andando por aí contando os meus passos pulando cada linha (da calçada bem riscada) passeei devagarinho respirei o ar do mar vi casal entrelaçado um cachorro de sapato a velhinha de bengala o rapaz da bicicleta (com o freio sem sentido) o carteiro atrapalhado o lixeiro manequim o pedinte de cigarro o vizinho abobalhado o porteiro infartado a menina da novela um jardim bem aparado aquele muro derrubado (e trocado pela grade) dei a volta ao quarteirão meia volta me virei fui ao mundo e voltei em cem metros repousei
ao lado da minha casa tem uma árvore galhos dispersos pela janela fazem caminho um tanto estranho enroscam luzes e ventilador seguem rasteiros pelo teto parecem braços, meio afetados talvez carentes d'algum afago mas se acaso o quer tocar espeta os dedos sem um lamento e os passarinhos que vão cantar não acalantam, é só ruído e aqueles galhos que querem amor traduzem totalmente a dor
às vezes me refugio dentro do meu caderno é lá que encontro abrigo onde posso sonhar visito cada linha olho rabiscos sem fim um número de telefone nem sei bem de quem um nome solto na página sem rosto e solitário nenhum compromisso marcado nada me prende ao lugar passeio alheia ao concreto cada inteiro é pedaço de um pequeno devaneio é lá que encontro meu mundo suspenso dentro do meu caderno
sou assim meio encantada pelo mundo que criei faço assim meio apressada a fantasia que pensei fujo assim meio calada da bobagem que lancei fico assim meio assustada com as coisas que tentei
nunca vejo nos seus olhos brilho maior ao menor dos meus sentidos nunca vejo em suas mãos suor quente ao frio dos meus medos nunca vejo em sua alma aura azul ao redor dos meus lamentos lamento por você por mim por nós por todo mundo
O silêncio vem chegando devagar Um latido ali, um som de sapato aqui Consigo ouvir até a onda bater O cheiro de flor invade minha sala Um portão se fecha e olho pela janela Luz bem fraca do outro lado da rua Ouço o último carro que passa apressado Dobra a esquina e vai embora Permito a sensação do nada O relaxamento traz a maciez da noite Posso enfim pensar em paz
queria acreditar que posso olhar para o céu que um santo cuida de mim que a imagem traz um lugar que o pecado é mortal que meu encanto natural que o pedido é sentido que todo meu pranto é aceito que eu sou especial
então assim calado
talvez eu faça um pedido sossega meu canto sentido espera meu sonho chegar consola a vida vivida sustenta a alma tristonha me leve bem leve pro voo apruma o vento de oeste ajuda a calma ficar
emocionada estou descobrindo quem sou no olhar do outro aquilo que importa das coisas que foram ditas e feitas só agora entendo que acertei que transformei alguém que olha para si vê a mim vê nós dois
pela janela daquele ônibus vi alguém passar não vi o rosto quem é o pai se é casado se já tem filho o que fará naquele dia o que fará daqui pra frente se tem amigo ou é sozinho gosta de rock ou de canção dorme coberto sonha acordado mora em casa ou num sobrado vive alegre ou é zangado de onde vem pra onde vai e se um dia o encontrar não saberei que é você porque olhar pela janela não conta nada além da estrada !
Na hora que tudo escurece Não há procura Nem encontro E quando os olhos clareiam Na busca de algum afeto Nada cabe ao meu alcance Não há sombra Nem reflexo Não há brilho Nem saída Só almas inexpressivas que se alimentam da escuridão
Tenho medo do imponderável de tudo que eu não posso ver daquilo que não comando do muito que não quero ter tristezas que não são minhas das dores de todos os meus.
algumas coisas que preciso procurar nem sempre estão onde eu sei talvez eu tenha que andar um pouco ir por aí pra ver se encontro aquilo tudo que nunca achei e pode ser que quando eu volte nunca me lembre o que de fato porque de fato eu já nem sei